Mas essa tradição nem sempre foi respeitada e chegou a ser proibida na comunidade do Jauary. “O nosso Aiuê congelou em 1935 por conta de preconceito”, lembra seu Daniel. A palavra aiuê, segundo o historiador Eurípedes Funes, significa festa no idioma africano kimbundu. Foi por causa desse caráter que a Igreja Católica impedia o ritual, com a desculpa de que se tratava de algo pecaminoso. Mas com a iniciativa de dona Dilma Salgado, que viveu a época áurea das festas nas comunidades, o Aiuê foi recuperado e está sendo passado para a próxima geração com o Aiuê Mirim.
Para quem mora no Jauary a identidade quilombola precisa ser preservada, por isso as festas, as danças, as ladainhas ocupam um significado importante na memória dos moradores. Assim também surgiu o Grupo Cultural Encanto do Quilombo. Fundado em 2010, o Grupo compõe suas músicas com instrumentos artesanais de madeiras e fibras da floresta construídos pelos próprios músicos. O repertório do grupo, que já tem um álbum gravado, é bem vasto, vai de carimbó, xote, até samba, sem esquecer o famoso brega paraense. Além as apresentações em Jauary e nas comunidades vizinhas, o Encanto do Quilombo faz sucesso na cidade de Oriximiná e já se apresentou até em Manaus.